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O bolso do advogado Paulo Cruz está sempre vazio. E, se por acaso ele receber moedas como troco por uma compra, elas não ocuparão esse espaço. O advogado sempre as deixa sobre a mesa de trabalho. “Nem levo as moedas para casa. Quando escapa uma, minha mulher usa na padaria. Meu estagiário recolhe todas na mesa e, quando o total chega a R$ 50, ele me dá uma nota. Tudo para não lidar com as ‘redondinhas'”, diz. O estagiário dele, Rariel Jaras, não se importa em fazer o serviço. “Sou pago para isso. E não tenho nada contra as moedas.” Se não é todo mundo que tem um estagiário assim, há muitos que se igualam a Cruz na aversão ao dinheiro de metal.
Caminhando pelas ruas do Centro de São Paulo não é difícil encontrar pessoas como a estudante Michele de Oliveira. “Eu perco todas as moedas, por isso peço sempre para trocar por papel. Ou alguma amiga minha as ‘rouba’ de mim.” O motivo exato para tanta rejeição não é certo, mas o fato é que muitos brasileiros, se puderem escolher, priorizam as notas.

Cultura

“A cultura inflacionária pode ser a razão de muita gente não gostar de carregar ou receber moedas. Afinal, a estabilização efetiva da economia é relativamente recente. Foi pouco tempo para as pessoas se conscientizarem que elas têm valor”, afirma o coordenador de pesquisas do Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração (Provar-FIA) Nuno Fouto.

Para ele, agora, com a crise inflacionária no passado, o valor das moedas poderia ser maior, de R$ 5 e R$ 10. “Em outros países, o uso da moeda é comum (leia mais abaixo). Muitas carteiras aqui no Brasil não possuem sequer divisão fechada para moedas, é preciso ter também uma bolsinha própria para esse fim”, diz Fouto.
“O uso da moeda ainda é um aprendizado para o brasileiro. A aversão ao metal mudaria se as pessoas lembrassem que cinco moedas de R$ 1 equivalem a 1% do salário mínimo atual”, diz o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Juracy Parente.

Segundo o professor, a inflação alta ainda está enraizada na alma do consumidor. “Até a caixa de uma loja ou supermercado pede desculpas na hora de dar o troco em moedas, porque se sente envergonhada. E tem gente que nem quer levar, prefere pedir balinha para não ter que carregar o volume no bolso ou na carteira.”

Parente acredita que um caminho para mudar isso seria uma campanha de conscientização feita pelo governo federal. Os consumidores poderiam passar a exigir até R$ 0,01 de troco, e o varejo estaria pronto para atendê-los. “Se as pessoas tivessem moedas com valor mais alto, também dariam mais importância às pequenas”, diz.

Esmola

Na avaliação da psicóloga da área financeira Olga Tessari, quando uma pessoa deixa a moeda no estabelecimento – ou seja, não faz questão de levar o troco – ela quer passar o seguinte recado: não preciso dessa esmola e o melhor é dá-la para quem precisa. “Existe até uma famosa rede de fast-food que coloca um cofrinho bem ao lado da caixa registradora, onde está escrito – deixe uma moeda, ajude”, lembra.

Olga diz que a aversão ao dinheiro de metal é uma questão cultural. “As moedas eram menosprezadas na época da inflação porque valiam muito pouco. E o hábito não mudou. Além disso, há quem ache que ela faz barulho, pesa na bolsa. No exterior, o costume é completamente diferente”, diz a psicóloga.
Esse desprezo foi confirmado por um teste feito pela reportagem do Diário do Comércio nas ruas do Centro. Uma moeda de R$ 0,10 foi deixada no chão, na Rua XV de Novembro, um ponto bastante movimentado da capital paulista. Muita gente passou por ela, e alguns até chegaram a pisar nela. E nada. Levou algum tempo até que a atendente de telemarketing Thamires Valentim a enxergasse de longe e abrisse um sorriso.

E, ao contrário de muita gente, ela diz gostar desse tipo de dinheiro. “Caminho sempre procurando moedas. Elas quebram um galho quando a gente está sem mais nada.” Thamires gosta das moedas exatamente porque fazem barulho. “Quando a nota cai no chão, a gente perde, nem percebe. Já a moeda, todo mundo ajuda a pegar, não dá para disfarçar.”

Amor declarado

Se a maioria, como o advogado Cruz, desteta moedas; há alguns, como Thamires, que as amam. O casal de comerciantes Neide Alencar Ayub e Fauzi Abdala Ayub faz parte desse segundo grupo. Ele mantém sempre várias redondas no bolso da camisa. “Meus netos vivem pegando minhas moedas. É uma pena, mas não consigo dizer não”, diz. “Aceito moeda com alegria. Já teve caixa de lanchonete que me ofereceu balinha, pensando que eu acharia ruim as redondas. Nada disso. Sou comerciante e reconheço a importância delas”, afirma Ayub.

A entrevistadora para pesquisas Kellen Nunes Siqueira é outra que gosta do metal. “Moedas cabem em qualquer lugar, ninguém as rouba, são práticas. Acontece com frequência de eu pedir na padaria para trocar R$ 20 em papel por elas.”

Dinheiro com cheiro de novo

O dinheiro brasileiro vai ganhar cara nova. A segunda família de cédulas do Real, criado em 1994, deverá entrar em circulação gradualmente até o final deste ano – processo que se estenderá a 2012. Entretanto, as notas atuais continuarão valendo até a substituição integral.

O projeto das novas cédulas está sendo desenvolvido pelo Banco Central e pela Casa da Moeda. Elas atenderão inclusive a uma demanda de deficientes visuais, que não terão mais dificuldade em identificar os valores das notas.

Os tamanhos das cédulas serão diferenciados, e as marcas táteis em relevo, aprimoradas. A temática atual será mantida: a efígie da República nos anversos e animais da fauna brasileira nos reversos. Mas os elementos gráficos foram redesenhados, com o objetivo de oferecer mais segurança e facilitar a verificação da autenticidade pela população.

As primeiras cédulas a serem lançadas serão as de R$ 100 e as de R$ 50, que demandam mais segurança contra falsificações. No primeiro semestre de 2011, serão colocadas em circulação as notas de R$ 20 e de R$ 10.

O total em circulação no mercado é de R$ 134,6 bilhões. São 1,9 bilhão de moedas no valor de R$ 0,01; outro 1,3 bilhão de moedas de R$ 0,05; em torno de 481,8 milhões de R$ 0,50; e ainda 35,4 milhões de R$ 1..

As notas de R$ 1 somam 154,5 milhões de unidades; as de R$ 2, são 711 milhões; as de R$ 5 chegam a 394,5 milhões; as de R$ 10 e de R$ 20 somam 659,2 milhões e 614 milhões de unidades, respectivamente. A cédula em maior quantidade em circulação é a de R$ 50, com 1,4 bilhão de notas. De acordo com a assessoria de imprensa do Banco Central, o custo médio para a produção de uma moeda é de R$ 0,27. Por mês, são fabricadas aproximadamente 140 milhões delas.

Fonte:DComércio